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Por: Cledorvino Belini
Presidente da Fiat Chrysler na América Latina

O Plano Real está completando 20 anos. Este é um fato que merece nossa atenção e reflexão, pois o plano estabilizou a economia brasileira, que vivia uma situação de hiperinflação. A estabilidade foi a base para o salto de crescimento e de inclusão social que o Brasil registrou nos últimos anos, sendo uma conquista e um patrimônio de toda a sociedade, que deve ser defendido e valorizado.

As novas gerações podem considerar o ambiente econômico estável como o estado natural do mundo, mas nem sempre foi assim. Durante o período agudo da inflação, nos anos 1980-90, os preços chegaram a subir mais de 80% em um único mês. Nas empresas, os contratos eram renegociados todas as semanas. Quando o trabalhador recebia o salário, corria para fazer as compras do mês, pois os preços subiam até 3% por dia. Aplicava- se o dinheiro no overnight, para obter remuneração diária. A economia era indexada por meio da correção monetária e a inflação passada terminava por alimentar a alta de preços.

Nossa moeda atual, o real, nasceu em 1º de julho de 1994, depois de uma etapa engenhosa em que se utilizou uma moeda escritural em todas as transações econômicas, promovendo- se uma desindexação geral da economia. Era a Unidade Real de Valor (URV), que devolveu à sociedade a noção de preços relativos.

A estabilidade da economia resgatou os valores reais essenciais ao desenvolvimento.

Dinamizou as empresas, aumentou o poder de compra dos assalariados, assegurou a credibili- dade na moeda e permitiu a expansão do mercado e da economia brasileira. No período inflacionário, dedicávamos nossa energia para combater as consequências da inflação, renegociando contratos, preenchendo planilhas, fazendo cálculos que não agregavam qualquer valor ao negócio. Sobrava pouco tempo para o planejamento, para pensar a expansão ou a inovação.

Por isto, é tarefa coletiva salvaguardar a estabilidade e aprimorar seus fundamentos, como a desindexação da economia. O Plano Real avançou muito neste campo, mas parte dos contratos e da economia ainda continua indexada. É hora de pensar uma nova estratégia para remover o resto de indexação que temos, para caminharmos para a livre negociação de contratos entre as partes.

Este é um assunto polêmico, que desperta paixões e reações inflamadas.

Mas é necessário fazer uma reflexão mais atenta, com foco nos fundamentos da atividade econômica e na perspectiva do desenvolvimento sustentável para a atração de investimentos e geração de empregos e renda. Precisamos aumentar a produtividade das empresas no país, sem perder de vista o tripé que assegurou a estabilidade da economia até aqui: metas de inflação, controle fiscal e câmbio flutuante. Sem nos livrarmos da indexação ainda existente levaremos décadas para atingir os níveis de inflação de nações desenvolvidas, como os Estados Unidos, que registram uma taxa de 1,5% ao ano, abaixo da meta de 2% do Fed, o banco central americano.

Um olhar sobre o passado recente mostra que a memória inflacionária anterior ao Plano Real ainda é forte entre os brasileiros. O temor de que o dragão da inflação destrua patrimônios é o principal motivo para manter as práticas de indexação remanescentes.

 

Se, por exemplo, o país acumula em um ano 6% de inflação, no futuro os aluguéis, salários, contratos em geral, enfim, toda a economia carregará o efeito retroativo da alta passada dos preços, impregnada em índices como o IGP-M, INPC, INCC, que reajustam boa parte dos contratos.

Esse mecanismo traz para o presente a inflação anterior, criando um patamar para a alta persistente e disseminada de preços.

aí decorrem fortes distorções na economia, sobretudo pressões de custos sobre as empresas, devido à inércia de aumentos de preços, salários e contratos impelidos por índices que refletem o passado e não as condições presentes de produtividade. Há um descasamento entre receitas e despesas, com grande impacto sobre a competitividade do setor produtivo e que termina por exercer pressão inflacionária.

Os reflexos perversos desta dinâmica afetam também os investimentos produtivos, uma vez que a indexação é um dos fatores impeditivos da queda dos juros. É claro que encerrar o ciclo da indexação no Brasil é uma tarefa complexa, pois a memória inflacionária de certa forma ainda se encontra enraizada na vida dos cidadãos. Mas este é um passo necessário para efetivamente derrubar a inflação ao nível dos índices observados nas economias mais dinâmicas, e também para promover e atrair novos investimentos e fortalecer os fundamentos do crescimento econômico sustentável. É importante destacar que somos capazes de superar este desafio.

Não podemos esquecer que somos um país que por muito tempo sofreu com inflação de dois dígitos e até hiperinflação, mas conseguiu reduzi-la para a faixa de 2,5% a 6,5% com o Plano Real.

Devemos pensar em um novo salto qualitativo no amadurecimento de nossa economia, trazendo a inflação para os níveis verificados nos Estados Unidos e nas economias europeias, a fim de abrir espaço para a queda dos juros a patamares similares, criando um ambiente de forte orientação para o investimento e o crescimento sustentável.

Indexar é olhar o passado.

Desindexar é mirar o futuro.

A pergunta é como eliminar as amarras da economia, qual mecanismo seria adequado para uma atividade econômica em crescimento que elimina a indexação de preços? A resposta parece ser a livre negociação entre as partes, como ocorre nas economias mais dinâmicas. A geração e distribuição de renda no país pressupõe crescimento econômico, novos empregos.

E nesta equação não há mágica: é preciso investimento de longo prazo com segurança de retorno ao investidor.

O poeta Drummond diria que no meio do caminho tinha uma pedra. Na nossa economia a pedra é a indexação.

 

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