Texto extraído da conferência proferida pelo Presidente Juscelino Kubitschek – realizada no Clube Militar – Rio de Janeiro – DF, sobre a política de desenvolvimento seu governo, em 21 de julho de 1959:

“Falando numa associação de militares, não poderia deixar de referir-me à ordem, a essa ordem sem a qual todo esforço pelo desenvolvimento resultaria infecundo, inútil, destituído de qualquer base. A luta pelo desenvolvimento só será levada a efeito dentro de um planejamento ordenado, e com equilíbrio político. Pouca semelhança existe entre a hora em que iniciamos a nossa industrialização e aquela em que os Estados Unidos lançaram os fundamentos de seu poder econômico. Em nossa era, as investidas pioneiras e os empreendimentos individualistas têm campo muito restrito. Os problemas sociais, as ligações cada vez maiores entre diversas economias nacionais, a própria luta de interesses transportada para um plano muito diferente em consequência da formação de grandes empresas de influência mundial, tudo isso mudou as características da batalha em prol do avanço dos países. A tecnologia adquiriu importância decisiva. Em todos os ramos da atividade humana, qualquer progresso se subordina ao conhecimento da técnica, que domina o mundo na paz e guerra, pois o poderio militar, tão intimamente ligado à capacidade industrial moderna, também é decorrência da técnica.

Ao lado dessa necessidade absoluta de procurarmos conquistar as técnicas modernas para avançarmos e progredirmos, temos que firmar a nossa estabilidade política, pressuposto de toda ação ordenada. Nunca uma nação dependeu tanto da estabilidade de suas instituições como a nossa, quando está lançada a sorte do nosso desenvolvimento, isto é, o nosso próprio destino.

É preciso que os povos com que mantemos relações de amizade e colaboração sintam que temos o domínio de nós mesmos, o disciplinamento em nossas forças, obediência às nossas próprias leis, que aplicamos bem as nossas energias, para que também nos respeitem e nos deem o tratamento que desejamos e a que temos direito. A indecisão e a atividade polêmica só se têm como naturais enquanto se tateia, enquanto se procura um caminho. Mas já não vivemos na incerteza quanto ao que nos cumpre realizar. Perdemos tempo demais, e esse tempo tem de ser recuperado, e nenhum brasileiro digno desse nome pode alhear-se desta verdadeira guerra, já deflagrada, para a conquista do nosso futuro.

A defesa da ordem, da paz, da harmonia social é um imperativo da política nacionalista. Digo-o diante de membros de uma classe que tem demonstrado a mais alta compreensão dessa face fundamental do problema e que está penetrada desse sentimento de responsabilidade, sem o qual não é possível governar nações da importância da nossa, num mundo cheio de dificuldades e problemas.

Não desejo encerrar esta palestra sem uma palavra que traduza o reconhecimento do Brasil para com suas classes armadas. Se a unidade nacional foi uma obra milagrosa, digna do gênio do nosso colonizador, que criou uma nação, é impossível também negar a função conservadora dessa unidade, exercida no Império e na República pelas Forças Armadas. Recebemos um patrimônio imenso, e vós colaborastes de maneira preponderante para preservá-lo das cobiças, para defendê-lo de ameaças, constituindo-vos não apenas numa força de pura vigilância, mas numa instituição unificadora, num elo a mais que manteve a firmeza do conjunto.

Sois uma força democrática. Lidais com a juventude de todo o Brasil. Nas vossas fileiras, a matéria-prima é uma só: os moços do Brasil. Sem distinção de classes, de condições de fortuna, sem discriminação de raças, são iguais perante vós. Agora, tendes uma nova bandeira, tão importante quanto a da própria unidade do Brasil, a bandeira do desenvolvimento, da qual depende essa mesma unidade e a sobrevivência deste país nas condições em que nos interessa sobreviver. Participais de duas maneiras dos benefícios do desenvolvimento: como brasileiros e especificamente como militares, pois a posse dos recursos defensivos e dos complexos engenhos de guerra de hoje é privilégio de nações desenvolvidas, de que só participaremos plenamente pela força do nosso próprio desenvolvimento”

 

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