11 de setembro de 2001 Lembrando o ataque ao World Trade Center
11 de setembro de 2001 Lembrando o ataque ao World Trade Center
Presidente George W. Bush fazendo seu pronunciamento

Carlos Alberto Teixeira de Oliveira*

Fui um dos convidados ao almoço com o ex-presidente norte-americano George W. Bush, ocorrido no restaurante Leopoldo, dia 9 de setembro de 2010, em São Paulo. O evento, que contou com um público de aproximadamente 200 participantes iniciou-se pontualmente às 12:30 horas, conforme programado. Tratou-se de uma realização do Grupo Fairfax Seguros, do Canadá, considerado um dos maiores e mais capitalizados de seu gênero no mundo e que acaba de chegar ao Brasil, com planos de se tornar um dos principais players do setor segurador do país.

Esperava um grande aparato de segurança ao local do evento. Para minha surpresa, não houve nem necessidade de se passar por detectores de metais ou por revistas, bastando a apresentação do convite e da carteira de identidade Tudo muito simples, despertando algumas brincadeiras, como as de que a única exigência seria a de se ter de trocar os sapatos por sandálias havaianas, para se adentrar no recinto. Antes da cerimônia em si houve um coquetel aos convidados e os lugares foram distribuídos em mesas de oito lugares, com assentos já pré-determinados.

Inicialmente, a palavra coube ao economista Jacques Bergman, presidente da Fairfax Brasil Seguros Corporativos S.A., a quem coube desejar os votos de boas-vindas e as explicações sobre tão importante iniciativa.

Logo a seguir discursou o Sr. Prem Watsa, presidente da Fairfax Financial Holding Limited. Em uma rápida explanação, explicou aos presentes a história, a estrutura, os objetivos e as estratégias da instituição, realçando que a recente crise financeira internacional pouco atingiu os negócios do grupo empresarial e que, ao contrário, o grupo se encontrava em franca expansão, pretendendo realizar algumas aquisições de carteiras de seguros e, porque não, até mesmo assumir o controle acionário de outras empresas concorrentes do ramo. Destacou, ademais, a importância do Brasil e o porquê da sua chegada ao país, considerando-o um dos mais promissores mercados da atualidade.

Sem quase nenhuma formalidade a palavra foi, então, passada ao Sr. Bush. Bastante descontraído, calmo e brincalhão, ali tivemos a oportunidade de estar frente à frente, a apenas alguns poucos metros de distância, com o homem que até há pouco menos de dois anos era considerado um dos mais importantes de todo o mundo, tendo ele protagonizado uma das crises econômicas mais severas que se tem notícia e que ainda nem de longe marcou hora para terminar.

As suas palavras iniciais foram de puro elogio ao Brasil, destacando a sua importância no cenário internacional e participação relevante no suprimento de matérias-primas, em especial, uma posição consolidada na produção de alimentos. Disse ter a firme convicção do papel de destaque já reservado ao país, consideradas as enormes potencialidades advindas das suas riquezas de recursos naturais, ampliadas ainda mais pela descoberta do pré-sal e pelo vigor na produção do etanol. Para ele, o Brasil será, sem dúvida, uma das grandes potências mundiais, não só pela grandeza territorial e população, mas pela dimensão expressiva de sua economia e, em particular, na presença significativa entre os maiores produtores de commodities alimentícias, afirmou.

Para Bush, a história não se escreve no curto prazo e ninguém detém o poder de escolher ou decidir o que vai acontecer.

Afirmou, categoricamente, não se arrepender de nenhuma decisão tomada destacando-se, entre as quais, aquelas que resultaram na invasão do Iraque, a queda e morte de Saddam Hussein. Para ele, a sua maior tristeza era quando tinha de abraçar as inúmeras mães de soldados americanos mortos durante a guerra. Isto sim era o que mais contava, porque a democracia tem de ser defendida e os ditadores, expulsos.

Comentou aos presentes a angústia dos momentos passados quando da quebra dos bancos Lehmann Brothers e Bear Stearns, revelando algumas passagens de bastidores na ocasião, como as suas conversas com Bernanke, presidente do Federal Reserve Bank.

Ao tomar conhecimento da gravidade da situação, considerou que aquela política econômica havia encerrado um capítulo na história. E que era preciso reinventar uma outra, que equacionasse os problemas atuais e definisse uma nova agenda de prosperidade, que teria de ser diferente das políticas estabelecidas anteriormente.

Segundo ele, a decisão de se deixar instituições como aquelas quebrar foi uma questão, em primeiro lugar, de aumentar ou não os impostos, levando as suas repercussões e consequências maiores a toda a sociedade. Contrário ao intervencionismo estatal, destacou a importância do mercado como o grande definidor dos processos econômicos. Defendendo a política do pragmatismo, realçou a sua descrença em relação aos “ismos” em geral, em especial, aos protecionismos exagerados e aos ilusionismos econômicos, aos populismos e às demagogias inconsequentes.

Bush reforçou que o principal valor político chama-se democracia. E, todas as vezes que ela for ameaçada, todos devem se engajar na luta pela sua proteção. E contou aos presentes, para ilustrar, um caso muito interessante, de um relacionamento seu que amplificou para amizade pessoal com um ex-primeiro ministro japonês. Ao procurar Bush para se despedir, ao final de seu mandato e após os encontros protocolares na Casa Branca, ele foi surpreendido por um desejo pessoal manifesto do 1o ministro. Era o de conhecer Memphis, a cidade onde havia nascido Elvis Presley, o que foi prontamente atendido, tendo sido o mesmo acompanhado pela família Bush, que o recepcionou, posteriormente, com hospedagem e um almoço especial em sua fazenda particular, localizada no Texas. Ao final do almoço, aqueles visitantes ilustres foram brindados por canções de Elvis Presley entoadas por ninguém menos do que pelo próprio 1o ministro japonês, bastante afinado por sinal, possuidor de um bom tom musical e voz convincente. “Aí reside o verdadeiro valor da democracia”, ressaltou mais uma vez Bush. “Há 67 anos o meu pai, como piloto, lutou contra os japoneses. Hoje, aqui estamos como amigos e aliados, lutando contra as tiranias e as ditaduras, lembrando que o Japão enviou tropas militares para lutar no Afeganistão e Iraque, em apoio aos Estados Unidos, afirmou.

Um capítulo à parte ele dedicou aos ataques às torres gêmeas do World Trade Center, ocorridos quase exatamente, à mesma época, há nove anos. Participando na ocasião em Washington de um evento em uma escola pública, quando comunicado da 1a colisão do avião com a torre, considerou que essa ocorrência poderia se constituir num acidente, talvez um erro do piloto. À segunda, imaginou um ataque. Quando comunicado da terceira e quase simultânea ocorrência, que culminou com a queda de um terceiro avião no edifício-sede do Pentágono, constatou e concluiu tratar-se de uma verdadeira declaração de guerra aos Estados Unidos, o que exigiu, imediatamente, o seu refúgio no avião Force One, como medida de segurança máxima.

Pudemos ver ali um ex-presidente simpático, despido de vaidades, falando com sinceridade e com uma postura de absoluta franqueza. Durante toda sua exposição realçou não sentir nenhum tipo de arrependimentos pelo que fez e, ao contrário, mostrou um pesar pelas coisas que não pode fazer ou evitar. Para ele, um dos momentos considerados mais felizes dos oito anos de mandato presidencial foi a cerimônia de sua segunda posse. Relembrou, principalmente, as fortes críticas recebidas, em 2004 e que, mesmo assim, não puderam impedir a sua reeleição.

Disse possuir uma simpatia e profundo respeito ao presidente Lula. Elogios não lhe faltaram, afirmando tratar-se de uma pessoa sem muitos “rodeios”, de fala direta, franca e sincera, cumprindo o que promete. Destacou um de seus primeiros encontros, quando lhe perguntou “qual o maior problema que lhe provocava as noites de insônia?”. Lula prontamente respondeu: “a necessidade de geração de no mínimo 5 milhões de novos empregos durante o meu primeiro mandato”. Ao que ele Bush, imaginou, se a mesma preocupação aplicasse ao presidente da China e guardadas as mesmas proporções dos dois países, o chinês teria de inverter a insônia, da noite pelo dia, dada a sua necessidade de geração então, de no mínimo uns 30 a 50 milhões de novos empregos a cada ano.

Bush ainda comentou o recente desastre ecológico provocado pela British Petroleum e considerado um dos mais graves já ocorridos, destacando que pode colocar esse tipo de exploração dos hidrocarbonos sob dúvidas e em risco, ampliando-se de outro lado, as possibilidades, a relevância e os diferenciais positivos de outras fontes renováveis de energia. Nesse campo reiterou a importância do etanol brasileiro e revelou que, apesar de se manifestar publicamente contrário, interesses diversos impediram a aprovação de leis americanas de maior estímulo e de quebra de barreiras à sua importação.

Finalizando, Bush afirmou acreditar na vida pós-presidência e que já se encontrava plenamente adaptado a ela, realçando algumas de suas inúmeras vantagens. Uma delas, a de se tornar um verdadeiro colarinho branco, no bom sentido, podendo passar a ter a chance de desfrutar dos prazeres de uma conferência como esta da qual ora participava e, também, antes de tudo, de suas benesses, como os honorários, também por ela recebidos. Para ele era muito engraçado receber por estas palestras, já que em toda a sua carreira pública jamais as havia cobrado. E acrescentou: se tivesse cobrado valores similares aos atuais por todas aquelas palestras proferidas que já fizera, com toda a certeza, ele poderia ter se tornado um dos grandes milionários do mundo.

Ao final, o ex-presidente respondeu a todas as perguntas dos participantes, exceto de representantes da imprensa, que não foi convidada a participar, por uma imposição protocolar.

*Texto de autoria do editor-geral de MercadoComum, Carlos Alberto Teixeira de Oliveira, publicado na edição de 2010 – cabendo destacar que MercadoComum foi, naquela oportunidade, a única publicação brasileira autorizada a participar do evento e a reproduzir a palestra do ex-presidente norte-americano.

*Carlos Alberto Teixeira de Oliveira é economista, presidente da ASSEMG – Associação dos Economistas de Minas Gerais; ex-presidente do BDMG – Banco de Desenvolvimento de Minas Gerais S.A.; da ABDE-Associação Brasileira de Desenvolvimento e do IBEF – Nacional – Instituto Brasileiro de Executivos de Finanças; Coordenador-Geral do Fórum JK de Desenvolvimento Econômico – Vice-Presidente da ACMinas – Associação Comercial e Empresarial de Minas; – Presidente e editor-geral da MercadoComum e da MinasPart – Desenvolvimento Econômico e Empresarial, Ltda.

 

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