Olavo Romano O lugar, pequeno e pacato, encarapitado no alto do morro, parecia um presepinho. Sem padre fixo, missa só de mês em mês, uma às sete, outra às dez. Para esta, o pessoal da roça chegava já almoçado, exibindo cavalos e arreatas. Na festa do padroeiro, o arraial se animava, celebrando todos os santos deixados para trás…
No princípio, aquele queimor na boca do estômago, pensou em azia. Lembrou também do pastel, lá na cidade, na véspera. Ou, quem sabe, a cerveja? Depois foi apertando, parecia cólica. Tomara que não fosse a malvada da úlcera ameaçando abrir de novo. A coisa ia e vinha, ele da sala pra cozinha. Danou a beber…
Rumor de cascos, relinchos,tinir de lanças e espadas,mouros e cristãos, em feroporfiar, tudo repousano passado mais remoto.A mineira cavalhadaé uma festa de cores,estandartes, bandeirolas,mantas e arreios, estribosreluzentes e donzelasseqüestradas sem pudor.O povo aplaude e aprecia,pois esta pura alegriatempera e abençoao ramerrame teimosoque muitas vezes imperano coração das pessoas.
A alma dos tambores,aprisionada no silêncio das esperas,liberta-se ao toque de mestriados que sabem segredos e mistérios.Animadas por ancestral magia,praças e ladeiras da velha Vila Ricafremem ao repique dos chocalhos,retumbam cantigas e lamentos.Minas na veia
No recomeço do mundo,clarear de um novo tempo,anjos morenos,nascidos no meio do povo,exibem plumas e nuvens,lembrança de onde vierame pra onde, em dias de muita luz,têm vontade de voltar.
Jeito Mineiro Mineiro, quando sonha, vê o mar;acordado, esbarra na montanha,ondas se perdendo no horizonte.Absorto em abismos profundos,Matuta mistérios do mundo:morro atrás de morro,vista querendo alcançar,longes distâncias azuis,a alma da matériano oco das coisas.
O povo sai à rua, que é lugar de festa boa. O Menino Deus recebe sua oração, sua loa. Os três reis do Oriente chegam trazendo presentes. É isso que se celebra do jeito mais leve e puro – cantar com voz em requinta é muito bom e seguro: o amor impere sempre no coração…